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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A fuga


Espere pela mais alta madrugada. Pode ser de uma segunda pra terça. Essas tão caladas, tão mais escuras que todas as outras. Psiu! Não faça barulho. Só calce os sapatos lá fora, depois que você tiver fechado a porta para isso tudo que você está deixando para trás. Não deixe que ouçam seus passos. Mesmo que você pise duro, eles se entregarão vacilantes. Tanto que se ouvirem e te perguntarem aonde é que você está indo, é capaz de você dizer que está saindo pra comprar um cigarro. E, mesmo que você não fume, provavelmente, você voltará com um maço barato e fedorento e até pensará na possibilidade de começar a dar uns tragos. Quem sabe as frustrações não virem fumaça?

Se não virarem, vê se na próxima vez que você resolver largar tudo, não se esqueça de calçar sapatos confortáveis. Porque quando você sair sem fazer barulho e alcançar a rua você vai correr, correr, correr... até a hora que você se der conta que o que você sempre quis era ganhar asas e voar, voar, voar... Então, você vai se jogar numa calçada, cansado e sem fôlego e vai tentar se convencer de que realmente você é uma pessoa de sorte por nem ter ganhado calos doloridos.

Será mesmo um alento não tê-los, principalmente porque te fará esquecer rápido que correr não é a solução. Tanto que em vez de você se ocupar em construir suas asas, você gastará seu tempo e energia fazendo um mapa. Que bobagem! Sinto em lhe dizer que mesmo com um roteiro você se perderá na próxima esquina e ficará em dúvida em toda e qualquer bifurcação. É do feitio dos inquietos se perder quando tudo é possibilidade. E, por um instante, você terá certeza absoluta de que o mais seguro não é aproveitar a oportunidade e sumir, mas voltar pra casa andando devagar. Até porque não tem erro: basta seguir as placas do caminho de volta.

E é nesse caminho de volta, quando suas costas começarem a doer com o peso da mochila, onde se carrega essa vontade de tudo, medos inconfessos, riscos não corridos, sonhos não assumidos, idas frustradas e vindas frustrantes, que talvez você, finalmente, perceba que fugir é um engano tolo e covarde. Afinal, quem foi que disse que fuga é libertação?


(Autor desconhecido)

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